quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Árvores de desejos

Imagem: Juan Medina

Às primeiras horas da manhã, o quarto sussurrava, soava juntamente com o canto dos passarinhos que se refestelavam na árvore de amora do quintal, essa que estendia seus ramos até a janela do presente recinto. Galhos compridos e lisos, com folhas largas, lembrando o formato de corações. Sim, corações verdes-claros com seiva pulsando, uma usina transformando gás carbônico em oxigênio de maneira harmônica, tal qual uma ária de Bach. Roupas espalhadas pelo chão, um vestido floral dependurado na penteadeira, calcinhas e sutiãs recriavam um mosaico por todo aquele lugar. Os lençóis amassados, lençóis bege, tão claros que refletiam a luz do sol que entrava pela janela e realçava o ambiente. Da mesma maneira, a brisa leve e úmida com cheiro da chuva que havia caído durante a madrugada emanava impressões as quais memoriavam à pintura, paisagem envolvente que os que vissem ficariam inebriados e se sentiriam impulsionados a se misturarem ao torpor. Corpos tocavam-se além do quarto, no banheiro conjugado revestido de vidros jateados com desenhos florais e arabescos. Nuvens de vapor d'água subiam do box, condensavam-se e se tornavam gotículas beijadas pelos raios de sol da manhã, semelhantes a moços curiosos escorrendo através do vidro. O barulho da água ao cair no chão misturava-se aos sons de mãos deslizando por vãos, lábios e línguas em frenesi. Uma visão extremamente sensual, com tons de perversão, tons fortes mas, ao mesmo tempo, lânguidos, líquidos. Rosados pêssegos, firmes e suculentos pomos tais quais frutos de árvores de desejos. Ali onde a natureza humana sobressaia a qualquer paradigma ou conceito pré-concebido, onde o exalar dos amantes era o sexo em sua mais significativa forma. Naquele exato momento nada mais era superior e importante não passava de um substrato etimológico, apenas uma palavra do dicionário substituída por "necessário", desesperadamente necessário, termo esse suspirado pelo ambiente, adentrando paredes, portas e fechaduras. Nuas Vênus com unhas afiadas encharcavam-se uma na outra, submergiam e emergiam, lindas roupas delicadas, sedosas. Liquefaziam-se e se satisfaziam atravessando os minutos, vales, banhados, corredeiras e veios. Eram rios cristalinos ou mares onde caravelas flutuam e peixes alimentam-se na água morna.  Entre gemidos e estalidos de beijos, o anseio mais íntimo, mais profundo de suas carnes, de suas mentes povoadas das mais ardentes frases. Repetiam quase como um mantra, uma oração profana ou não, dependendo da capacidade das mentes em interpretar o querer das almas, o que as completa. Insistentemente, repetiam entre mordidas, bocas e sexos, lubrificando ações, algo que faria o mais romântico enternecer-se por elas e entrar com prazer em seus aposentos róseos sentindo-se rei e/ou rainhas na presença de princesas da luxúria e sedução. Duas palavras apenas, um só segredo, esse capaz de erguer e derrubar montanhas: Me ama! Aaaah! Me ama! 

Joice Furtado - 27/12/2012

1 comentários:

Anônimo disse...

Minha paixão esta poesis esta muito linda as utimas palavras ficou perfeito (Duas palavras apenas, um só segredo, esse capaz de erguer e derrubar montanhas: Me ama! Aaaah! Me ama!)