quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Cruzado poema


Foto: Agnieszka Szuba 
Somos feitos da mesma matéria
claro e escuro, força-medo
expansões do Universo
ebulições interiores da crosta
Terrestres-humanos sobretudo
lâmpadas para o escuro dos olhos
arames e cacos de vidros
o despertar da flor no monturo
a relva que se murcha pelo abafado
da tristeza um bocado
comemos todo dia das hostes 
preparamos a mesa e nos aprontamos
os pés já possuem bolhas
mesmo assim tais leais são duros

o elmo reluz sob a lua
caminham em direção ao sol
fortuna para os desafortunados
canção de ninar aos desvalidos
os estampidos de balas alucinam
todos mais vis mortais 

aquele coração amolece no peito
como se toda a nulidade incorporasse
feito o que em nada crê na tormenta
fomos Pedro, somos Pedra

ainda que o mar nos estapeie
permanecemos imóveis
transcendendo olhares reprobatórios
desmanchando os cachos dos cabelos
enrolando-os de novo 

ciclo constante é esse
soldado nas multidões 

*

E o poema fala-se, engendra-se, dita-se como se a vida fosse ele mesmo, todo ele em si. Quando termina ainda avisa: Não continue, já terminei!

Joice Furtado - 09/08/2012

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