domingo, 5 de agosto de 2012

Acrobacias incensoriais

Foto: Fanatical Surreal Manipulation

Domingo para mim é um dia chato, como chatos considero os feriados prolongados nos quais não há o que fazer por falta de recurso financeiro ou, mesmo,  ânimo para mudar essa situação. Domingo só, esse sim é um dia "pé no saco". Será mais um dia ou "o eleito". Trapaceio o tempo para que esse passe mais rápido. Em compensação, gostaria que não terminasse para descansar mais um pouco, preguiça é foda, compensando-me simplesmente ficar com todos os meus pensamentos, tantos os geniais quanto os puramente compulsórios-obsessivos. Aqueles nem tão geniais assim, porém, eu preciso valorizar o meu passe. Acendo um incenso, esses que agente compra em loja de R$ 1,99, o mesmo que  depois de evaporar o cheiro bom, deixa no ambiente um futum de cigarro que irrita muito. Algo um tanto quanto louco uma vez que continuo acendendo esse singular rastilho carvão com óleo essencial fixado em uma lasca precária de bambu ou qualquer pedaço de pau bem baratinho. Penso, toda vez que acendo esse incenso, que os vizinhos vão dizer: A fulana está "defumando" a casa, o que não me importa muito, uma vez que o falatório em vão não me traz nenhum benefício e o que não me traz benefício/satisfação eu arremesso para longe de mim tal qual um saco de bosta. Também não acredito em propriedades espirituais ou de cunho místico dessas hastes perfumadas, porque se tudo que fosse perfumado e queimasse trouxesse algo de bom, eu tocaria fogo em vidros de perfume. Bobagens e muito blá blá blá. Essa nossa sociedade hipócrita e mentirosa a qual, vestindo a máscara da liberdade individual, tenta impor em nós a sua maneira torpe de pensar. A única impressão que o incenso me traz é, além do perfume que inebria minha mente, a poética da fumaça que subindo em caracóis se dispersa, assim como a vida também se dispersa com o tempo, a mesma vida que exala os seus perfumes quando permitimos, quando não damos lugar ao fedor desagradável da soberba e altivez. A fumaça branca do incenso dispersa-se e eu nem consigo perceber quando isso acontece. Fico divagando: É assim a vida? Devo prestar atenção! Por hora, tiro as ideias do baú da sorte, mente profano-santa, nem tanto uma quanto outra, em equilíbrio bastante para não pular da ponte ou de um barranco qualquer.  Despejo as mágoas nas linhas brancas, os dedos mergulham na bacia de pipoca, o jogo de futebol na TV e o incenso. Já em vias de ficar com raiva do cheiro, antes prazeroso, controlo meus incontroláveis pensamentos. Imagino bons momentos, coisa de gente metida a zen que só é assim porque já sofreu demais e teve de aprender. Tal qual dizem os antigos, velhos eu não digo, porque a intolerância é sinal de fraqueza e já são fraquezas demais para conviver para que eu acolha no peito essa peste de preconceito. Eu, preconceituosa? Vejo-me com minhas milhões de mazelas, possuo essa também, amordaçada com super-cola, mesmo assim, ela, volta e meia, dá um jeitinho de se mostrar viva. Domingo só eu e a minha rima, ora cultuada, ora ultrapassada, pobre e rica, chorosa, ordinária, porém proveniente de uma mente que não se cansa, quer dizer, muitas vezes cansa, só que persisto nas minhas alegorias, plumas e paetês, essa avenida multicor, cores fortes e fragrantes como esse incenso que já está no fim. Faço o carnaval dos olhos, sentires. Carne, mente, desejo, sentimento, misturas bem arrumadas e organizadas com apelos de quem só deseja. Domingo só desejo o não só desejar e sim ser puro desejo, desejada sempre eu que do desejo vivo e o acaricio em meu peito. Penso em contar mágoas. O filho da puta do computador está travado de novo, então suspeito, a mente divaga e eu  heroína sou do meu mundo. Uma Quixotesca em pleno Século XXI, mato um dragão por dia dentro da mente, depois descubro que não passam de moinhos de vento, eu posso então os soprar para longe. Cavalgar nas nuvens feito uma doidivanas, Diva-Musa, quem me dera? Quero o amor, nada mais. Amar as letras, amar a mim mesma e a quem me ama. Tão simples! Parece essa pieguice ultra-romântica. Fazer o que? Até as que alguns chamam promíscuas carregam dentro de si sentimentos de amor-proteção. Esses fazem parte da natureza feminina. Bem que poderia ser assim todos os dias, um só estalar de dedos e puf.... todo desejo realizado. Agora, vou lá acender mais um incenso, vê-lo queimar, mulher-incendiária.

Joice Furtado - 05/08/2012

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