segunda-feira, 30 de abril de 2012

Bem-me-quer





Diga que me quer bem
Bem-me-quer
ardendo-o coração

Não adianta desperceber
percebe-se 
Quem ama apercebe tudo!

Flutuando entre razão-sentir
razão que se sente 
reacende a paixão aqui

Amor

Mimetizando a si mesmo
olhando dentro 
profundamente envolvido
nesse bem-querer
por você
nada mais que belo

O frescor da primavera
a chuva insistente na janela
os lençóis e cobertas na cama
o cheiro, o gosto, perfume no ar
corpo quente de quem ama
presente e anelo
nesse elo
instante
meu-bem-me-quer

E eu o quero
tão-bem

Joice Furtado - 30/04/2012

domingo, 29 de abril de 2012

Eclipse




Eclipse eu vejo nos olhos dela
doce quimera
sensível coração

ser assim tão bela 
alma feminina em flor
espalha cores em meu rosto
cada rosado seio mimoso é
apreciável e amado botão

Fulgurosa entre as rainhas
brilha majestosa óh lua
pele alva das deusas
amar-lhe o corpo inteiro
saciar a minha noite
sua beleza
no orvalho da pele nua

Brincos de estrelas
reluzente
desenrola o manto celeste
vestido ornado, grande dama
mãos lisas passeiam suaves
resplandecem os lençóis da cama

Entre as musas é dileta
esplêndida magnificência
exaltar-lhe mulher minha
amante minha sempre ser
Vênus prometida

premedita seus desejos
nuvens de beijos sem fim
passeiam entre o céu e a terra
faz-me seu hoje e adiante
espargi-los-á em mim
elevado eu sou

em meu peito
Terra sedenta 


Joice Furtado - 29/04/2012

sábado, 28 de abril de 2012

Azulejos



Sabemos 
por inteiro nós
beleza é ficar assim
ouvindo somente o som
sós
medindo os azulejos
no chuvisco do chuveiro

Ser a massa
ou mesmo cola
o rejunte que enfeita-une 
os mundos
em verso e prosa

Cada gota ao reverso
rolando
sentir aquele pregresso
desejo
ao beijar o seu beijo
gosto de amar em mim

Nas pontas dos pés, da alma 
o infinito instante abraça
envolve a água morna
os corpos num mesmo fim

Respiração 
da bruma evaporada aura
nus em natural beleza
ofegante

Rabiscam os seus versos
destemidos dedos
como o fazem os poetas
inspirações do banho
sempre intensas 

Joice Furtado - 28/04/2012

Hospedeiro



No chão em que rasteja
platelminto das trevas 
escorrega pelas folhas 
baba cérica
faminto no seu parecer
Chato

Consome os restos de tudo
cada pequeno quinhão
das moscas e larvas mortas
aos corpos em decomposição
refestela-se

Hospede dos intestinos
metidos crescendo em ninhos
de carne e calor humano
inverte-brando rebolados
espirais espiralando recados
sujeiras despejadas em caldos
animais

Nos pés dos descalços
descasos
governantes governo
és o mordomo 
servindo aos convidados

Pestilência espalha doença
cagadas de bem armadas fugas
dinheiro vazando pela culatra
dos homens sem-conduta
urinando na sua sina
raça de cães de lauta
latrina


Cada um só serve bem ao seu propósito egoísta.


Joice Furtado - 28/04/2012


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Grandessíssimo




Voltava eu para minha casa, hoje, após a labuta, perto das 6 horas da tarde, quando do meio da multidão ouço, bem próximo de mim, um homem gritar: Filho da Puta! Seu Grande Filho da Puta! Tentando calar a minha voz! Eu não mereço tanto isso!
Ao ouvir o primeiro Filho da Puta, eu imaginei: Que diabos é isso? Será briga? Continuei em minha caminhada pelo centro da pacata cidade do interior, sendo que a voz continuava persistente: Filho da Puta. Seu Grande Filho da Puta. Uma ideia estranha veio na minha mente: Ouvindo vozes perto da Ave Maria. Será que o céu ou outra banda quer me dizer algo? 
Claro, nem me atrevi a olhar para trás. E o medo de constatar que eu estava tendo alucinações. Brincadeira minha. Tive receio de que o insano ou são-homem, Quem poderá julgar a loucura alheia?; identificasse-me como o "Filho" e partisse para cima de mim a fim de tirar as satisfações sobre o por quê de "Ele merecer tanto isso". Um minuto se passou e eu ainda ali, naquele impasse, o que será que esse homem está aprontando? A voz de revolta dele não me parecia estranha, nem me parecia tão louco ele estar gritando aos quatro ventos a tal insatisfação. Não olhei para trás. Talvez ele estivesse discutindo com alguém. As pessoas que vinham na minha direção, com olhares transtornados, passavam  quase encostando nas paredes das lojas, receosas de que o fulano perdesse de vez a estribeira. 
Estranho olhar para as pessoas e ver em seus rostos uma palidez mórbida e, ao mesmo tempo, amarela expressão de vergonha-covardia. Um: Esse daí tá pirado! ou Essa praga não tem mais o que fazer? Nossa hipocrisia diante das coisas é horrenda. Eu mesma fiquei confusa. Mais que depressa pensei: Vou atravessar a rua e ver o que está havendo desse lado, numa distância segura dos fatos. Disfarcei e parei na faixa de pedestres para atravessar em direção a praça principal da cidade.
De relance, eu reparei no sujeito gritalhão: Casaco verde, óculos e chapéu às seis horas da tarde. O chapéu poderia ser para se proteger da chuva que ameaçava cair.
Continuava a ouvir o homem esbravejando e constatei que, olhe só, ele olhava para trás e não havia ninguém, ao menos eu não vi o tal "da Puta" que ele tanto odiava. De repente, ao atravessar a passagem de trem, ainda ouvi: Filho da Puta! e cessaram os gritos do sujeito. Aliviada ainda tive um ligeiro pensamento: Algum policial deve ter abordado ele.  
Moral da história: Quando você sufocar a sua loucura, fingindo que não existe ou tentando parecer normal para os hipócritas que lhe circundam, saiba que ela gritará para os raios que lhe partam, para os tão ajuizados rirem da sua cara, para os fanáticos e delinquentes, os lunáticos e donas de casa, vendedores, lavadores de carro, pipoqueiros e para quem mais ela quiser: Seu grande Filho da Puta. Está tentando calar a minha voz? Pois é, você não consegue!

Antes um Filho obediente a si que um Puto obediente a todos.


Joice Furtado - 27/04/2012

Caribé




No meu boteco
tem cachaça, cerveja, muié
torresmo 
pele de porco mesmo
baranga, bacana, banana
homem-piranha, que desgrama!
Bebuns acordam-me aos berros
e eu esquentando a cama

No meu boteco
área-vip dos banidos
marginais de toda espécie
mal-amados, bem queridos
sarjeta pouca é bobagem

Nesse muquifo onde troco a grana
troco, porque ganhar já esqueci
e se embola a amante com a dama mulher
voando pena pra todo lado
aparece quem bem quiser
ou se perdeu de si

Espero a porrada cantar
 caírem dos saltos
para debaixo a cima olhar
seus fundilhos úmidos
do calor-proposital
umedecidos

Pardieiro cheirando a cigarro
suvaco e cece 
vômito de bebida quente
mordomia do Caribé
bar de homem-muié, tudo mais
que a propaganda diga
mentira da oposição maldita
esses meu-freguês de bosta
nem zóio tem nas costa
e enxerga-fala que mal-me-quer

***
Vem ser feliz aqui no bar Caribé!

Joice Furtado - 27/04/2012

Vermes



Arrastam-se pela morte
sentimentos
vale sombrio dos segredos
moribundos jazem na terra

Sobressaem na anti-vida
dolorosa via de pranto
os barcos do inferno 
vão
vermes gordos remando

Mortos na penumbra
putrefatos expõem feridas
não-purgadas doenças
Miíases necrosadas 
chorume das almas perdidas
vagantes no além-tumba

Pisoteadas as minas
funesta ingratidão
explosão de mentiras
perpétua chaga eclode
o basilisco ovo no chão

Amantes do ódio, fel
homens cambaleantes suam
odores mal-cheirosos
canículas de miragens sobem
irradiações do inferno ao céu


Joice Furtado - 27/04/2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Novos olhos



Sereno serenou
no chão de estrelas
da minha terra mental
Severa helena
insta
helenisticamente distinta
Alienada
de mãos dadas com a não-vida
pouca-vida muito nada
vá às favas!

A loucura e dor premente
já dor não somente é
dura semente
deve brotar
do cerne de quem quiser
Ser 
diferente

Sufocado ando
asfixiando os prantos
as exigências-divergências
enganos

Enforcado homem
de tolices banais
presos em nossos eus
tão individuais 
tão tolos

Esqueci de olhar o céu hoje
e observar dentro de mim
com novos olhos

Digo ao eu
para você e de tudo mais
que a mim vier ao sol apino
já estou ausente das conveniências
trucidando coisas belas
das flores os olores
não me trarão a paz

Abri mão das quimeras passadas
pisei as ervas-eras
Hoje sou a onda brava
porém coerente
ainda que esbravejar o mar faça 
continua a enviar as vagas
doces e azuis ao dia nascente

Por hora, contudo, vagalhão
arrebenta os ódios
na praia
a corrente
nada monótona constituída,
sensata-mente,
por alguma razão.

Joice Furtado - 25/04/2012

Abraço



Sentado na praça 
a hora passa 
e os momentos, esses
todo tormento embaça
a vidraça das esperanças

Saudável é aborrecer o que lhe aborrece

O jogo de cartas
a criança que corre 
abrace
a vida que vier
sentados na praça
os amigos sorriem, discutem alegrias 
até as desgraças vêem ruir
ante o novo recomeçar

Sentados nos bancos
transeuntes passando passantes
milhões de pensamentos
rostos, dores e histórias
o que volta e segue adiante
você, eu e o tempo
que não se senta
caminha sem parar


É a hora do rush dos sonhos, o sonhar incontestável aquece

Joice Furtado - 25/04/2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

Respostas


Voltaste pelo caminho
mãos vazias
coração ferido
palavras ditas não-ditas
em versos de bem-querer
viraste as costas a ela
senhora-mulher
e tuas respostas
jamais irás saber

Moça dos encantos gris
morenice do vale
no jogo, cartas sobre a mesa sós
entrelaçados eram
simples-mente sós e os nós
malogrando os efeitos
amarrando sapatos 

Voltaste com olhar perdido
folheando páginas de um livro
auto-pouca-nenhuma ajuda
encontra aflitivo 
vida
de mãos dadas com
morte-vida nascente
severa, severiza vida

Sem ela
Voltaste ao não
querer e ao pouco importa
ao que eras
repreensor de si
escravo das primaveras

não-presentes

entregaste o mundo 
tudo que sonhado é
remoto, mas fervoroso 
deliciosamente imprudente
conscientizado
executaste a chance
o milagre de amar
por existir somente.

os dois

Joice Furtado - 24/04/2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Chove-nhando



Chuvinha quinta
Chuvinha sexta
Sábado e Domingo
Vinha ela
Abro meu guarda-chuva
aparando gotas de insensatez
Angustia da alma faminta
distinta de si 
pouco-nada-distinta
destinada
senhora dos desejos destila
a dor caindo do céu
nesse interior
alma que chora e geme
aceita-rejeita
o gotejar cruel
ainda que necessário seja
caminhar
e é além
isso, em vez de omisso
caminho e lhe digo
Vem!

Chove-nhando em mim
de quando em quando
molhar os sonhos
presentes ali
na chuva

dos rios alegria
tristeza se noite e dia
está a cair

Sobre as copas das árvores
e da mente
florida
floreio os devaneios
considerável-mente
falta do que fazer

remexendo os galhos molhados
sacudindo as gotas presas do quê
na chuva eu sonho
agito-me e acordo
Em meio a tempestade 


Joice Furtado - 23/04/2012

domingo, 22 de abril de 2012

Turbilhão de emoções




Vestido de seda, me gusta
bordados em caracóis, espirais
tranças, babados e franjas
nunca serão demais
Breguice
o pior canalha é o que se nega
a acreditar em si


Fecha os sentidos não-ouvir
obviamente triste
estimular a perdição alheia

Cada linha em seu retrós
Cada alma em sua trama
Costuro idéias, costuro vida
amor, sexo, paixão e lascívia
dentro e fora da cama

Cada qual com seu pensamento

Abotoo sonhos
nos botões de rosas de fogo
Eu sei esse jogo seu
azar 
Numa escola de erros
de aprendizagem massiva
Chegada e partida
Quase me levou, porém aqui está
Encaro a ferida, escuridão
O céu deu-me a trégua
renega a altizez
e observa, observa
Que na vida há sempre o perdão

Dirão-me o hoje e o porvir 
coisas raras, estou a espera
costureira de mim

Turbilhão... encarar essa onda é demais!!! 

Joice Furtado - 22/04/2012

Canção da Bahia




Eu te saúdo, ó filha
África, mãe querida, vigia
os passos teus zela
Ao longe choro, saudosa
à beira do cais


Bahia
negreira flor Brasil
extrativismo ladrão
com açúcares erguida
sangue e dor em pedras
assentadas à mãos


Morena rendeira
cor do cacau em grão
Terra de Jorge, o Amado
de azul, do mar e sal
Prantos e guerra
Seca no sertão
bravo povo Graciliano
canta a tua vida
Trouxeste-me inspiração
e o amor
ó terra
Bahia
de todos os santos
de todos os credos
festeira em meu coração
razão cantada, poesia.

Quando eu pisar no solo baiano, vou me lembrar dessa poesia. ^^

Joice Furtado - 22/04/2012

Referência: Wikipédia

Invasões Estrangeiras



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um talvez...salve



Talvez eu seja só um frustrado
um anti-herói americanizado
brasileiro
muitas idéias na cabeça
bolso poido escasso dinheiro

Talvez eu seja o reflexo
de um ególatra coitado
desaprovando minhas besteiras
mas lambendo muitos sapatos
Talvez

Talvez eu faça parte da cremação
de todos os mundos
das antigas civilizações à atual babilônia
partículas insondáveis de ancestrais
sub-humanos
sub-regrados
Subtotais

Talvez eu seja o talvez
a razão e anti-razão
o quiçá e o "de-repente é"
um sequer
Talvez um pouco de tudo
um muito de nada 
o quê da respota errada

Um louco qualquer

Quem sabe um homem-mulher
cavalo marinho
sozinho, sozinho
entocado no ninho
sem idiotas predefinições ou preconceitos

Talvez eu rebele a natureza
e seja somente um sê
Senão, sincero, somente
e, mais que isso, poeira
de estrelas ou só um espinho
porco-capeta-espinho

O meu cinismo me impede de crer
em coisas regradas demais
sufocações, abafamentos do pensar
Talvez isso seja sorte ou só azar
Talvez eu saiba
Definir-se é bastante chato, acredite
Por isso eu fico entre a razão e a loucura
o amor e a guerra
na ponta dos pés, eu piso em ovos
Associo-me aos guerreiros-imortais
companheiros de luta-alucinados
são só os que se definem

esquecendo-se que o talvez ainda requer
Observação


Quem sabe? Talvez eu seja... poeta

Joice Furtado - 20/04/2012

Sou tempestade... Sou bipolar "...depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro."  Caio Fernando Abreu - Retirado do blog Chocolate com pimenta.

Odisseia


Que há nessa farda mística
fala com que me tomas
dos dedos os anéis
vestindo-te de espanto
luz em penumbras no manto
branco de olhos cruéis

Ao revés, ao revés
Rodos de tolos empurrados
Cada qual com seu orgulho
renegando inegáveis féis
debaixo da língua
fiéis a si somente e ainda
Corroboram em caridade
Doces papéis
de mentira

Incendeia a minha mente
Incendiária eu quero ser 
com idéias de fogo, brasa
sitiar a tua cidade amada
tocando chamas em teu prazer

Ao revés, ao revés

Nero, a minha odisseia apenas começou
eu te buscarei no além-túmulo
para incendiar a mente do mundo
e a minha também
ou o que dela restou
Sã ou pouco-desequilibrada
Pintando o auto-retrato frustrado por não ter
todos os atributos e assuntos em tez.

Joice Furtado - 20/04/2012

Rola bosta



Brincar de espalha-letras
espalha merda
salpicando palavras aqui e acolá
tirando da mente todas besteiras
os males eu quero matar 
expurgá-los, transcendê-los
Atirar a queima roupa, pintando o sete
sangue vermelho, violência merdífica 
explodo a raiva 
Deterioro de vez essa insanidade
Das minhas loucuras eu sou freguês
dos outros loucos sou metade
companheiro da boemia-amizade
Embora boêmio falido, beirando o burguês

esquisito traste vestido de inseto
alado mosquito dos reles pântanos
equatoriais desses brasis

Incomodo, incomodando sou feliz
perturbo a sua mente, zunindo
com estampidos de tapas na face
aguada e molenga face onde
bradando estapeia-seu  nariz

Eu sou a morte e a vida
a quietude e a tempestade
em mim fazem guarida

Não nego o que sou
e sou tantos ao mesmo tempo
indefinido pretérito
presente infinito
eu vivaz  vivo
alucidamente 

Minha máscara de bobo-lobo
louco-assaz
cai e assim se surpreende
todo que me toma nojo
nojeiras eu também sei dizer
e pensar
pensar é o que mais faço
Tente só mais um pouco
faça-me surpreender
Surpreenda-se!

Joice Furtado - 20/04/2012

Porque você mata uma e vem outra em seu lugar... rs
Raul Seixas

Lago falsário




Contempla o espelho embaçado 
Vazio na alma em medo reflete 
Concussões de si num drama 
Pessoal e apressadamente
Tira de dentro a inquietude
Lança-a ao chão em cacos
De vida, ainda, no ventre
Respira
Aliviado e aliviando a dor
que o espreme, esmigalha
dilacera
seus ais, da retina a janela
que o entrega 
e não mente, nunca mente
a alma 


Silêncio no engano plácido, lago falsário
enganoso é o coração
afagos e palavras ternas são cardos
punhais enterrados às costas
fumaça asfixiante 
inebria e amortece a vítima
da inocência pior ladrão


Oníricos mendigos 
roubadores
de todas idéias 
Vis homens de ardis tais
Quantas almas mais matarão, lançados ossos à lama,
mascando seus entulhos mesquinhos?


Baseado no poema Narcisismo

Joice Furtado - 20/04/2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Atemporal



Nós éramos a luz
quiçá meia-luz gostaria
lusco-fusco
escuridão,
eu só com os meus pensamentos

Quantas vezes, você imagina?
Olhei para a Via Lactea
de pé no terreiro
 ela me encarava ressabiada
pobre formiga terrena!
sobre a minha cabeça, caminha
enquanto
metade de mim, quebrado peito
rompendo entre a razão e o anseio
engole pranto

Contei para as estrelas e as contei
tudo o que me restava, simplesmente
teu sorriso parado no tempo
naquela estrela escolhida
numa noite de novembro

Piegas e brega, sou indeciso
em nomear a mim mesmo 
Contanto que me nomeasses em teu seio
Do manto da noite arrastaria-te
Ao meu esconderijo, quarto íntimo 
emoções tão bem guardadas e manipuladas 
intencionando disfarçar
meu grande amor por ti

Desde o crepúsculo a alvorada
da mais louca emoção entre lençóis baratos
eu não te acho. Sim!
já me perdi


O amor acontece no tempo, entre tempos, enquanto há tempo para todo amor que queira ser dito/vivido verdadeiramente.

Joice Furtado - 19/04/2012

Afiada



Prisioneiro é do passado
alimentando ódio, ressentindo
abelhas zunem nessa mente
enxame de maribondos em seus ouvidos

Olha o horizonte e o mete na cartola
Chora e se lamenta
Remorsos, só remorsos
escombros de misérias na lama
putrefata entranha de delírios e desmesuras
Grita alardeando suas próprias besteiras
desequilíbrios mascarados em ternura

Bêbado
Refugia-se em orgulho, trono fecal
latas e mais latas, consumindo
anos apegados nesse sorriso
Frouxo
Tresloucado e nada-amigo

Espera que venha e lhe entregue
as chaves de suas algemas?
Engano cruel

Rompo da alma as grandes 
resolvo, por mim, os estratagemas

Espera e espera em vão
A arte da vida é lutar,
mas de si é o próprio ladrão

Carrega amarrados às costas
Defuntos em decomposição
Corporal
de sentimentos estranhos, mui desonras
mortos acumulam-se em sua prisão
Egoísta!

Veneno de víboras espalhado
pela língua ferina de um degredado
homem-meio-bicho
Senhor de si não menos, perdido
entre alucinações de bem-sucedidos

Seus guiços chocalha ameaçador
De longe passem desavisados 
Num bote salta destilando peçonha
extingue os sentidos desse
É mais um pobre-coitado!

Gotejam suas afiadas presas
há males que emporcalham veramente a vida
pingam a mortalidade da não-defesa
Consomem-se os olhos, velha aparência 
 ressequida pele
Marcas da patética e mentirosa
danosa ferida

 navalha suja
Cortando outrem com contaminações próprias
apropriadas injúrias

Joice Furtado - 19/04/2012

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sem amarras



Aventuro-me em teu rosado seio 
Avermelhado
sangue queimante corre nas veias
carregado de entorpecentes estou
um tanto indecente, deliciado ilícito
narcótico extra de hormônios
Excitante!
sexualmente embriagado, anestesio
minhas ânsias nesse corpo moreno, liso
dopamina latente em fugazes beijos

Satisfeito em tê-la por ter, sem amarras
regras de conduta 
conduzem-me somente ao centro de ti
percorrendo os pelos, caminhos de prazer
Meu peso sobre essa pele nua
movimentos excitantes em curvas
Atropelo-me um tanto confuso, tonto
no vaivém das tuas ancas
cavalgantes nádegas, perversas transas
Grita teus orgasmos sobre mim.

Grita! 

Joice Furtado - 18/04/2012

terça-feira, 17 de abril de 2012

Quem me dera a Revolução


O tempo passa
pirraça
a criança faz
por meras vontades
os homens-pirraça
desgraçam o mundo
matam
em massa
Seus animais!
Repetem com armas em punho
críticos dos povos
ferocidade voraz
Atrocidades na mente
crueldades da gente
Preguiça de sermos mais
Tolerantes
Mais e melhor entre os que sentem
o pesar dos olhos
da cabeça sobre os ombros
cansados de lutar
nunca amortecidos
Cidadãos não-unidos
diferença jamais
Quem me dera a Revolução
das almas em corpos
A exatidão do querer
Ser
um a menos nos que se conformam
abaixando a cabeça feito asnos
chiliques dos chamados tais
Não, revolte-se enquanto há tempo

Do que adianta a revolta sem o agir?

Aja com pensamentos, mas haja!
luz em tudo que fizer sem fingir.


Joice Furtado - 17/04/2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Temporais




Então, os homens verificarão que foi mesmo a justiça que eles compraram no mercado das iniquidades, e que quem investe na justiça nunca sai perdendo. E a primavera voltará. Mas quem espera atingir a primavera sem passar pelo inverno nunca a atingirá.

Livro Temporais - Khalil Gibran

Olhos negros




Olhos negros, olhos negros
Se soubesses o teu efeito
nessas horas tardias, medo
eu sinto se não estás aqui

Brilhe para mim, lindo olhar
estrelas cintilam nessa Via
manto de emoções iluminadas
coração só por ti, para ti reclina

Na solidão desse espaço terreste
observo teu caminhar fagueiro
vestido solto no ar, preciosa flor
espalha teus segredos ao esvoaçar
dessa estampa multicor

Causaste minha estrela
solidão terrena, terrestre dor

Nesse rio que te figuras, refletes
descendo aos vales tua ternura
segue levando o amor, meu querer
às mais ferrenhas lonjuras
distante de mim

Impetuosa és
dona da minha afeição
pelas madrugadas a observo
e cintilas de longe para mim
suspira e lamenta a minha alma
presa nesse cintilar sem fim
do teu olhar

Joice Furtado - 16/04/2012